DISCOS
Redescobrindo a Paraíso
19.08.2014
Discos
esquecidos da extinta gravadora de Belchior e Jorge Mello serão digitalizados e
colocados na internet
·
·
Um verdadeiro tesouro da música popular
brasileira, enterrado em antigas fitas magnéticas e ou LPs, há décadas fora de
catálogo, está prestes a ser reavido. A internet será o próximo destino de um
acervo com cerca de 1 mil fonogramas, que inclui discos antológicos de Antônio
Carlos Belchior, produções coletivas de artistas cearenses que se destacavam na
década de 1980, e até raridades improváveis, como o disco "Sumaré",
de Bernardo Neto, encartado em edição da lendária Revista O Saco.
Os fonogramas compõem cerca de 100
álbuns, entre LPs e CDs, produzido pela extinta Paraíso Discos, gravadora
criada pelo próprio Belchior, em 1982, em sociedade com o advogado, arranjador,
e parceiro de várias de suas canções, Jorge Mello.
A princípio, o problema era jurídico:
sem o aval dos dois sócios nenhum dos álbuns que produziram poderiam ser
reeditados. Ato simples, que tornou-se praticamente impossível após o
isolamento que Belchior se impôs nos últimos oito anos. "Eu fui sócio do
Belchior por 22 anos. Com o sumiço dele, imagina o desespero de todos
nós", lembra Jorge, diante a possibilidade de ver fora de catálogo até
mesmo suas próprias músicas. "Ele é o maior interprete da minha obra.
Gravou mais de 20 músicas minhas. E é também meu maior parceiro, com 40 músicas
juntos, das quais, umas cinco estão inéditas", ilustra.
A internet surgiu para Jorge como a
milagrosa solução ao impasse. Em termos jurídicos, explica, disponibilizar os
discos na web não se configura um ato de produção, e sim, de utilização,
portanto, poderia ser feito sem a assinatura do músico. "A conversão para
o digital só envolve direito. E isso, minha administradora pode fazer, porque
ela administra direito e não produto. Isso é a diferença", detalha o músico.
Produções
No casting da gravadora - que tinha
distribuição nacional, primeiro pela Odeon, depois pela Continental, Warner e
Camerati - de início, estavam artistas cearenses, boa parte deles, oriundos da
Massafeira Livre, encontro que mobilizou diferentes linguagens, em 1979, no
Theatro José de Alencar (TJA). Lançaram pelo selo Graccho, Mona Gadelha,
Antônio Brasileiro, Ângela Linhares, Pekin, Caio Sílvio, Teresinha Silveira,
Lúcia Menezes, Aparecida Silvino.
"Fizemos dois discos do Lúcio
Ricardo. Aproveitamos esse pessoal logo no começo e até fizemos um disco
'Pessoal do Ceará', com um outro pessoal do Ceará", lembra Jorge, sobre o
disco coletivo "Aquele Flash!" (1986).
Os dois sócios também editaram seu
próprios discos, como os enigmáticos "Cenas dos Próximos Capítulos"
(1984) e Bahiuno (1993), de Belchior; e, de Jorge Mello, o compacto "Na
Asa do Avião" (1985) e "Um Trovador Eletrônico" (1987). Também
discos como "Country Beatles" (1986), do grupo Dollar Company, um dos
orgulhos de Jorge. "Tenho carta do Paul McCartney, na época, autorizando a
gravação das músicas. Coisa que as grandes gravadoras não conseguiram",
lembra, sobre o disco que ajudou a alavancar a produção da empresa.
Estão, ainda, na relação a ser lançada
na internet, títulos lançados por Jorge em outros selos, Terramarear e JMT,
como os LPs "Bar da Noite" (1984) e "Marcas" (1986), de
Terezinha Silveira, "Em preto e branco" (1985), de Antônio Brasileiro
(1985), e os CDs "O Amanhã Será Melhor" (2002), de Iris Thompson, e
"Trilha das águas" (1999), de Jairo Mozart.
"Nós encampávamos projetos de
vanguarda. Mesmo só, continuei fazendo isso. A Iris Thompson, que era pianista
e também escultora, foi destaque na primeira edição da Bienal de Arte de São
Paulo, em 1951. Gravamos ela ao piano, com 94 anos de idade, e chamamos para
cantar as músicas Gilberto Gil, Almir Sater, Luiz Melodia, Moraes Moreira, Na
Ozetti...", destaca.
Digitalização
A Paraíso Discos foi criada por
iniciativa de Belchior, no início dos anos 1980, e a parceria entre os dois
durou até 1995, quando Jorge saiu da sociedade. O advogado conservou o acervo
em seu escritório, ainda que não estivesse certo sobre o destino que lhe seria
dado.
"Eu mantive contato com empresas
que faziam esse trabalho de disponibilizar na internet, mas a maioria queria
que entregasse o acervo digitalizado", explica, lembrando que, atualmente,
em São Paulo, apenas dois estúdios possuem o maquinário capaz de digitalizar as
antigas fitas, e cobrando cerca de R$ 300/ hora. "Como vou fazer isso em
um patrimônio de mais de 1 mil fonogramas? Tinha que ter grana para
investir", diz. O entrave só foi superado, em parte, recentemente, com
parceria com a Genesis Music, empresa que se disponibilizou a fazer a
conversão.
O processo, que está sendo realizada
diretamente das fitas em 36, 24, 12 e 8 canais, no entanto, esbarra ainda na
necessidade de se gerar um código de registros ISRC para cada fonograma, o que,
segundo Mello, exige que para cada faixa digitalizada, estejam cadastrados os
dados não só dos autores, como de cada músico que tocou na gravação.
"Antigamente, utilizávamos um registro mais simples, que não era tão
detalhado. Eu tenho que achar o baterista que gravou para mim na década de
1980, ou o cara que gravou flauta. É um desafio Hercúleo", reforça, adiantando
que, até o momento, apenas seis dos 100 discos foram digitalizados. Ainda que o
caminho seja longo, Jorge Mello garante que completará a missão e comemora,
"enquanto estava na minha prateleira, estava morto. Agora virou um
sinal".
Fábio Marques
Repórter
Repórter
Casino Guru – Play at JTRTech
ResponderExcluirEnjoy the best games apple watch stainless steel vs titanium with titanium wire JTRTech. JTRTech is snow peak titanium a top online titanium linear compensator software 출장안마 provider to provide the best online gambling services. Rating: 4.7 · 10 reviews