segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Folclore e Cordel

FOLCLORE    

     Em todos os lugares do mundo, onde tem grupos humanos, há um patrimônio de tradições que são transmitidas oralmente e conservadas pelos costumes. É o que chamamos de FOLCLORE.
     Essa palavra foi criada pelo arqueólogo inglês, William John Thoms ( 1803-1885 ). Ele juntou duas palavras: folk, que quer dizer povo, nação, com a palavra lore, que quer dizer conhecimento, sabedoria. A palavra  folk-lore,  significava assim, a sabedoria do povo.
     Haverá sempre um folclore onde estiver o povo. Houve um folclore dos antigos cavaleiros andantes medievais, como haverá um dos astronautas. Houve um folclore dos índios caçadores de cabeças, como  há um dos motoristas de táxi. O folclore é mantido pela mentalidade do homem. Por aí vemos  que o folclore é uma cultura viva, diária, e útil. Por isso aparecem canções, lendas, histórias, danças,  composições coletivas representando a criação  folclórica de nosso povo. 
     O fato folclórico traz consigo as características do popular, do anônimo e do tradicional, transmitido quase sempre de forma oral.

O CORDEL

     No Nordeste do Brasil, é muito comum se ver nas feiras, bancas onde são vendidos pequenos libretos escritos em versos, contando histórias fantásticas sobre heróis e santos, ou mesmo reportagens sobre os acontecidos locais. A esses livrinhos chamamos CORDEL. Ganhou esse nome, por ser encontrado muitas vezes pendurados em cordões, como forma de apresentá-los à venda.
     É a literatura do povo, consumido por uma gente simples e humilde. É lendo o cordel, que essa gente  leva as novidades da cidade até ao sertão. O cordel substitui  o jornal. Também substitui a escola, porque muitos aprenderam a ler soletrando os versos desses livrinhos. 
     Para vendê-los, os cordeleiros usam de vivacidade. Escolhem um dos libretos e fazem uma leitura cantada, numa melodia bonita e penosa. Esse canto reúne o povo  para ouvir a história. Quando chegam na melhor parte fecham o livrinho e começam  um outro. Não preciso dizer, que morrendo de curiosidade, os ouvintes compram o cordel interrompido, para lerem em casa. Assim é feito com a leitura de cada livrinho, vendendo a todos.
     Os criadores dessas histórias, são pessoas analfabetas ou semialfabetizadas, como os consumidores, mas de muita sensibilidade, verdadeiros poetas do povo.
     Vejamos alguns exemplos de cordel:

1- DEBATE DE LAMPIÃO COM SÃO PEDRO (de José Pacheco)


     José Pacheco da Rocha tem uma origem polêmica. Para alguns, ele nasceu em Porto Calvo, Alagoas, mas para outros ele é de Correntes, Pernambuco. Nasceu em 1890 e faleceu em 27 de abril de 1954 em Maceió, Alagoas. Escreveu uma infinidade de folhetos, muitos deles no gênero do gracejo. Principais obras:

-          A Intriga do Cachorro com o Gato
-          As Palhaçadas de um Caboclo na Hora da Confissão
-          A Propaganda de um Matuto com um Balaio de Maxixe
-          A Chegada de Lampião no Inferno
-          Festa dos Cachorros
-          A Princesa Rosamunda ou Morte do Gigante
-          Os Prantos de Cacilda e a Vingança de Raul
E centenas de outros.

2 – HISTÓRIA DE RAIMUNDO JACÓ ( Origem das Missas do Vaqueiro) de Pedro Bandeira
3 -  VAQUEJADA PADRE CÍCERO – III VAQUEJADA DE JUAZEIRO DO NORTE –Pedro Bandeira

     Pedro Bandeira Pereira Caldas  nasceu a 1º de maio de 1938, no sítio Riacho da Boa Vista no município paraibano de São José de Piranhas. Aos 6 anos já fazia versos, aos 19 tornou-se cantador profissional. Em 1961 mudou-se para Juazeiro do Norte, onde reside até hoje. É autor de mais de  mil folhetos e de centenas de poemas e tem oito livros publicados e seis LPs gravados. É licenciado pela Faculdade de Filosofia do Crato e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Crato. Foi vereador em Juazeiro do Norte. Radialista. Pedro Bandeira – Príncipe dos Poetas Populares do Nordeste.

4 – O MONSTRO DO RIO NEGRO de  João Martins de Athayde

    Nasceu  no dia 24 de junho de 1880, no lugar chamado Cachoeira de Cebola, Município do Ingá, Estado da Paraíba. Faleceu em Pernambuco, em 1959. Foi o  pioneiro na editoria de cordel. Em 1920 adquiriu grande parte da propriedade literária de Leandro Gomes de Barros, então falecido, e publicou-a durante trinta anos  assim como a sua própria obra e de vários outros poetas. Em 1950, vendeu todos os seus direitos autorais a José Bernardo da Silva em Juazeiro do Norte. Hoje todos os direitos dessas obras, pertencem a Academia Brasileira de Cordel.
     Pequena mostra da vasta obra desse poeta:

-      História da Imperatriz Porcina
-          O Homem que Nasceu Para não Ter Nada
-          Meia Noite no Cabaré
-          A Lamentável  Morte  do Padre Cícero Romão Batista o Patriarca do Juazeiro
-          A Morte de Lampeão
-          Peleja de João Athayde com João Pelado
-          A Pérola Sagrada

5 - REI ZUMBI, O HERÓI DO QUILOMBO DE PALMARES de Franklin Maxado Nordestino

     Maxado Nordestino nasceu em Feira de Santana, a 15 de março de 1943, formou-se em Direito pela Universidade Católica da Bahia em 1966. Graduou-se também em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia em 1965. Veio para São Paulo em 1972 e trabalhou na “Folha de São Paulo”, “Diário do Grande ABC” e “Diário Popular”. Em 1995 resolveu dedicar-se exclusivamente à poesia popular. Já escrevia cordel desde 1966 quando publicou “Album de Feira de Santana” e “Protesto à Desuman – Idade” em 1975, ano em que escreveu o poema intitulado “Paulista virou tatu viajando pelo Metrô”, que enviou ao poeta baiano Rodolfo Coelho Cavalcante, que o colocou em métrica de Cordel e o editou, vendendo mais de vinte mil exemplares. É um autor de quase cem títulos. Atualmente reside em Feira de Santana.

Alguns títulos do autor:

-          Profecias de Antonio Conselheiro ( O sertão já virou mar)
-          Maria Quitéria, Heroína Baiana que foi Homem
-          A Feira de Feira de Santana já vai sair do meio da rua
-          O Sapo que Desgraça o Corinthians
-          O Frio de São Paulo está Desmoralizado
-          O que o Trabalhador quer
-          O Nordestino no Sul
-          Diário do Crioulo Doido
-          A Formiga e a Cigarra: a velha e nova fábulas


OBSERVAÇÕES: 

     Veja que o libreto com a xilogravura de Walderedo onde aparece um cangaceiro(Lampeão) e São Pedro, tem na capa o título de Chegada de Lampião no Céu, para atingir  maior vendagem, dado ao sucesso do libreto do mesmo autor, intitulado “Chegada de Lampião no Inferno”, que é um dos maiores fenômenos de vendas. Essa artimanha foi planejada pelo editor dessa tiragem, pois a estória criada por José Pacheco tem o título que aparece na primeira página, que é o citado: “Debate de Lampião com  São Pedro”.
      Outra observação sobre este libreto, é que aparece  outra estória: “A B C do Amor” ( também citada na capa). Não quis enviá-la, apesar da publicação num mesmo libreto, copiei apenas a parte que interessa ao projeto.

     No libreto HISTÓRIA DE RAIMUNDO JACÓ, acontece a mesma coisa. Na capa vemos “MISSAS DO VAQUEIRO – Da primeira a terceira”, que são versos sobre o grande acontecimento religioso criado por Luis Gonzaga, motivado pela morte trágica de Raimundo Jacó, um vaqueiro muito amigo do Rei do Baião. O autor neste mesmo libreto, conta a história das primeiras três missas, indicando as personalidades e os fatos que tornaram o evento tão importante no calendário das festas da Paraíba. Hoje a Missa do Vaqueiro já viaja por todo o Brasil e no ano passado foi celebrada no Anhangabaú aqui na capital. Os padres e ajudantes, vestidos de chapéu de couro e gibão, trajes típicos do vaqueiro, onde todas as músicas que acompanham a liturgia, são cantos de aboio.
     No libreto aparece na primeira página o título “Missas do Vaqueiro”, mas o texto trata da vida do referido martir. A primeira das missas, foi aquela rezada de corpo presente quando da morte de Raimundo Jacó. Não me interessei enviar a estória das outras missas.

     Sem mais para o momento

                                                  Jorge Mello

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